Para sempre amor

Sentada no ônibus seguindo meu caminho para o meu trabalho, começo sentir minha alma se revirar. Tinha alguém tentando a encontrar. Procurei por toda parte, mas não a achava. Olhei para o lado e vi um senhor a me fitar com seus olhos azuis grandes.
Aquele ser tão pequeno que estava do meu lado tentava entrar em minha mente. Seu olhar era tão profundo que entrei em seu ser e não conseguia mais sair de lá.
Ele começou a pronunciar palavras sem som, mal conseguia respirar. Mas aos poucos conseguiu tirar voz de dentro do seu intimo.
“Não corra de um amor”
Comecei a prestar atenção agora em suas palavras.
“Acabo de perder minha alma, minha vida. Ela tinha 60 anos. Como ela era bela, até após a morte continuava a me sorrir.
Nós nos conhecemos quando jovens, foi uma paixão avassaladora. Um não conseguia viver sem o outro, mas você sabe como o destino é cruel. Nos separou de uma forma brusca. Fez meu amor por ela se transformar em obsessão. Não conseguíamos mais nos entender. Até que um dia saindo de sua casa decidi nunca mais voltar. Peguei o pouco de roupa que tinha e uma foto dela e fugi. Fugi o mais rápido que pude. Não olhei para trás. Mas todos os dias de minha vida fiquei a olhar aquela foto, que trouxera comigo. Tive filhos, netos e agora estou com bisnetos, mas nenhum deles me fez a esquecer. Há duas semanas fui visitar um parente no hospital. Ele dividia o quarto com uma senhora encantadora, que seus olhos brilhavam quando olhava para o sol. Sim era ela. Ela estava ali na minha frente. Dessa vez eu não queria fugir. Fui ao seu encontro, mas seu olhar perdido me mostrou que ela não se lembrava de mim. Como ela podia ter me esquecido? Comecei a falar do nosso passado para assim fazer ela se lembrar de mim. Mas meu parente disse que ela estava com ausaimer. Fiquei essas duas semanas tentando fazer ela se lembrar de mim, mas foi tudo em vão. Não consegui deixar o quarto por um só dia. Então ontem quando acordei, ela estava a me olhar. Ela havia se lembrado de mim, sentia isso. Ela me olhava com aquele seu jeito infantil de antigamente. Comecei a relembrar os velhos tempos e comecei a rir, ria muito com as nossas lembranças. Até que percebi que minha risada estava só. Ela não se lembrava de nada. Mas mesmo assim pediu para eu dar minha mão para ela. Quando nos tocamos  ela me sorriu e pronunciou:”meu bem”. Após isso adormeceu em seu sono profundo. Ela se lembrou de mim, tive certeza.”
Ele ficou com seus olhos fixos no chão. Eu não consegui falar nada. Meu ser se contorceu de tristeza, queria chorar, mas eu não estava permitida a derramar lagrimas.

~ por rapsodiadodesaparecido em novembro 6, 2009.

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